Uma das maiores riquezas culturais da ilha Brava é a sua arquitetura, os “sobrados” e as “casas baixas” que, de um modo geral, constituem o conjunto habitacional da ilha. De todo o arquipélago, só a ilha do Fogo apresenta mais exemplos de sobrados que a ilha Brava. Estas edificações, vestígios da época colonial, historicamente eram utilizadas para habitação e negócio das classes sociais mais abastadas: funcionários públicos, comerciantes e estrangeiros que decidiam instalar-se nesta ilha.
Em Nova Sintra foram famosos os sobrados de Nhó Rafael, Nhó Joaquim Faria, Nhó Lichinho, Nha Nené Djunzinho Minguinha de Cruz Grande, Nha Lota Chineto e, mais recentemente, o de Nhó Tchico Gaudêncio, no sítio do Pé da Rocha; em Nossa Senhora do Monte, os sobrados de Nhó André Camilo, Nhó Dudu di Cheta, Nhó Jose Sena, Nha Mariinha; na Furna, Nho Djon di Pomba, hoje em ruinas, Nhó Augusto Azevedo, Nhó Coboy; No Lém, o de Nha Ninha Malá, Nha Mina Pulutcha, Nhó Bei, Nha Benvinda, Nha Quinha, Nhó Mocinho.
Os sobrados são edifícios espaçosos, geralmente compostos de um rés-de-chão e um primeiro andar, muitas vezes rodeado de uma varanda de madeira, com portas e janelas duplas de bandeiras exteriores de vidro e interiores de madeira. Os telhados, de quatro águas, eram cobertos de telha ao estilo marselhês. As dependências interiores eram bastante amplas, estando o piso térreo repartido numa sala de jantar, um quarto de hóspedes, uma sala de visitas e um quarto de arrumações. O primeiro andar era usualmente destinado aos quartos de cama. A cozinha do edifício estava instalada num anexo exterior, comunicante com um pequeno pátio ou jardim, onde se cultivavam flores e arbustos ornamentais.
O mobiliário destes sobrados era muitas vezes importado da Europa, do Brasil ou até dos Estados Unidos, revelando o bom gosto e a riqueza dos proprietários: aparadores, mobiliário de jantar e cadeiras de baloiço são alguns dos exemplares mais requintados e característicos. As paredes dos corredores e espaços comuns eram adornadas com retratos ou fotografias familiares e as mesas e bancadas cobertas de rendas e bordados.
(Fonte: Ilha Brava, a Terra, a Gente, o Mar de Benvindo Oliveira Leitão)